A Democracia e as armas de destruição matemática
- Eder Toledo
- 5 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de nov. de 2019
No mundo conectado de hoje, notícias não encontram fronteiras. É suficiente o acesso à internet por meio de qualquer dispositivo eletrônico para, em tempo real, independentemente de lugar e hora, o cidadão estar exposto a ampla gama de informações provenientes de variadas fontes, confiáveis ou não.
Esse ambiente digital era visto como o propulsor de uma expansão da participação cidadã na democracia contemporânea. Porém, o que vemos hoje é um retrocesso, decorrente de uma visão ofuscada, que transformou esse ambiente em coveiro da democracia. Refiro-me a dois instrumentos em particular: as notícias falsas e os algoritmos.
As notícias falsas sempre existiram, sobretudo, em períodos de rivalidade política ou de guerra. Ocorre que atualmente, com os meios digitais instantâneos, passaram a ter um papel altamente destrutivo. Estamos falando da desinformação e da mentira, que encontraram neste campo terra fértil, a ponto de manipular a opinião pública.
Isso surge quando uma informação, acompanhada de imagem ou não, é disparada pelos “criadores” nos grupos de Whatsapp, ou ainda nas redes sociais, como Facebook e Instagram, e logo em seguida passam a ser compartilhados e a circular em grupos de famílias e amigos, que dão legitimidade e chancelam um pressuposto de veracidade da fonte, que na grande maioria das vezes sequer é checada. Segundo informações do New York Times, das 50 imagens mais divulgadas (virais) dos 347 grupos públicos do Whatsapp em apoio ao candidato Bolsonaro nas eleições de 2018, só 4 eram verdadeiras.
Trata-se de um efeito destrutivo que corrói a democracia, e que foi ainda mais potenciado pela utilização conjunta de outro instrumento: o algoritmo, que permite retroalimentar e ampliar a divulgação nas redes, através de robôs e de perfis automatizados que difundem para milhões de pessoas notícias falsas ou verdadeiras, comentários a favor ou contra, tornando o assunto artificialmente popular e assim ganhar ainda mais destaque, influenciando no processo de decisão.
Acredita-se que estes instrumentos somados tenham influenciado o recente cenário político mundial, impactando no resultado das eleições dos Estados Unidos em 2015 (que culminou na eleição do presidente Donald Trump), nas do Brasil em 2018 (que elegeu Bolsonaro), no plebiscito sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e na independência da Catalunha.
Por isso, são chamados atualmente de armas de destruição matemática, que podem colocar em risco a democracia. Portanto, precisamos nos preparar, buscando remédios para evitar um mal maior, que é o fim da democracia. Até porque no ciclo imaginado por Platão, depois da democracia vem a pior forma de governo, a tirania.
O texto acima representa a opinião do autor.
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